Tensões económicas nos EUA reacendem interesse em criptoativos como refúgio seguro
O Presidente Donald Trump anunciou esta semana a aplicação de tarifas comerciais que vão desde 10% para o Reino Unido até 49% para o Camboja. Segundo o Presidente, estas medidas visam “tornar a América rica novamente”, podendo gerar biliões de dólares para a economia dos EUA. Contudo, as implicações económicas globais estão a causar grande incerteza nos mercados, levando muitos a questionar: será esta uma oportunidade para as criptomoedas?
Criptomoedas como refúgio seguro?
Historicamente, o Bitcoin e outros criptoativos foram vistos como refúgios durante momentos de instabilidade económica. No entanto, nos últimos anos, a correlação entre criptomoedas e ativos tradicionais, como ações e obrigações, tem aumentado, reduzindo a eficácia desta narrativa.
Ainda assim, em momentos de tensão geopolítica e económica, os investidores tendem a procurar alternativas descentralizadas. Zach Pandl, chefe de investigação da Grayscale, afirma: “Acredito que estas tarifas irão enfraquecer o papel dominante do dólar e abrir espaço para concorrentes como o Bitcoin. Os preços caíram no curto prazo, mas os primeiros meses da administração Trump reforçaram a minha convicção no Bitcoin como ativo monetário global de longo prazo.”
O Bitcoin, sendo deflacionário e com oferta previsível, continua a ser apelidado de “ouro digital” – um ativo que muitos consideram ideal para preservar valor em tempos turbulentos.
Actividade no mercado continua em alta
Apesar da volatilidade recente, o mercado cripto tem-se mantido ativo e dinâmico. A Circle, empresa emissora da stablecoin USDC, apresentou um pedido de IPO à SEC e planeia negociar na Bolsa de Nova Iorque sob o símbolo CRCL. Com receitas de 1,7 mil milhões de dólares em 2024, a Circle junta-se a outras empresas como Ripple, Kraken e Gemini, que também ponderam abrir capital.
Além disso, o preço do Bitcoin reagiu positivamente à reeleição de Trump em novembro, atingindo um novo máximo histórico de $109.000 em janeiro, embora tenha recuado para os $80.000 nas últimas semanas.
Interesse institucional em alta
Desde o lançamento dos ETFs de Bitcoin à vista em janeiro de 2024, o interesse institucional tem crescido exponencialmente. Segundo um estudo da Ernst & Young de janeiro de 2025, 89% dos investidores institucionais planeiam aumentar a sua exposição a criptoativos este ano, e 59% pretendem alocar mais de 5% das suas carteiras ao setor. Além disso, 68% mostraram interesse imediato em ETFs regulados de Solana ou XRP.
O mercado de stablecoins também continua a crescer, superando os 230 mil milhões de dólares, segundo dados da DeFiLlama.
Avanços na regulamentação dos EUA
O maior entrave à adoção de criptomoedas sempre foi a falta de regulamentação clara. Sob a administração anterior, o ex-presidente da SEC, Gary Gensler, era conhecido por regular através de ações judiciais, com mais de 100 processos movidos contra empresas cripto. No entanto, a aprovação do Financial Innovation and Technology (FIT) for the 21st Century Act em maio de 2024 e a posterior saída de Gensler em janeiro de 2025 trouxeram novos ventos.
Atualmente, a SEC, sob a liderança da Comissária Hester Peirce, tem demonstrado uma abordagem mais positiva e colaborativa com o setor, inclusive com a criação de uma força-tarefa dedicada ao ecossistema cripto.
A Reserva Estratégica de Bitcoin
Numa medida surpreendente, o Presidente Trump anunciou em março a criação da Reserva Estratégica de Bitcoin dos EUA, que incluirá Bitcoin, Ethereum, Solana, Cardano e XRP. Esta reserva será financiada com ativos digitais já apreendidos pelo Tesouro. Embora não esteja previsto um aumento da compra de criptoativos, o gesto simbólico representa uma mudança de paradigma na política monetária dos EUA.
Segundo analistas, o governo norte-americano poderia até vender parte do seu ouro para financiar esta reserva sem impactar os contribuintes, reforçando ainda mais o posicionamento dos EUA como possível capital global das criptomoedas.
Perspetivas para 2025
Com um ambiente regulatório mais claro, interesse institucional crescente e instabilidade nos mercados tradicionais, o setor das criptomoedas poderá estar à beira de um novo ciclo de valorização. Como disse Isaac Newton: “Posso calcular o movimento dos corpos celestes, mas não a loucura das pessoas.” No entanto, especialistas como Zach Pandl acreditam que o Bitcoin poderá atingir novos máximos ainda este ano.
Independentemente do rumo que o mercado tomar, uma coisa é certa: 2025 será um ano crucial para o universo cripto.
Fonte: Decrypt